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'ELE TRABALHOU DOENTE POR VÁRIOS DIAS': COMO MORTE DE AÇOUGUEIRO DEIXOU EM ALERTA MERCADO

Mesmo com sintomas da Covid-19, Claudio Mandu da Silva, de 48 anos, trabalhou em centro comercial até a Quinta-Feira Santa, 9 de abril; ele morreu seis dias depois Todos os anos, os comerciantes do Mercado da Produção, em Maceió, percebem a queda de movimento em suas barracas nos dias que sucedem a semana santa, quando há grande procura por peixes e frutos do mar para o feriado. Mas em 2020, além dos corredores vazios, espalhou-se o medo entre os vendedores do centro comercial. Um açougueiro que trabalhava no local morreu por Covid-19 na quarta-feira, dia 15. Claudio Mandu da Silva, de 48 anos, trabalhou normalmente até a manhã da Quinta-Feira Santa, dia 9. Nesta mesma data, centenas de pessoas se aglomeravam nos boxes e balcões instalados no Mercado da Produção. Os clientes deixaram para fazer compras de última hora e as recomendações de distanciamento social foram ignoradas. Alagoas é o Estado com menor taxa de isolamento social no Nordeste: 49,3% da população cumpre quarentena adequadamente, conforme aponta levantamento divulgado em 16 de abril. “O movimento não foi como no ano passado, devido ao coronavírus. Mas mesmo assim acho que o pessoal não estava ligando muito para isso, todos sabem como é o movimento nessa época do ano. Tinha muito pouca gente usando máscaras”, afirmou o dono de uma peixaria, que preferiu não ter o nome mencionado. Maior mercado e um dos mais antigos e tradicionais de Maceió, o lugar é um dos principais centros de abastecimento da cidade. Possui 1.478 boxes que vendem carnes, mariscos, peixes, temperos, hortifrutigranjeiros, e até mesmo roupas e artigos medicinais. O Mercado da Produção segue em funcionamento por ser considerado equipamento essencial para a segurança alimentar, conforme estabelece o decreto que disciplina a atuação do comércio durante a emergência em saúde pública no Estado de Alagoas.  O dono de um açougue no local disse que os comerciantes do mercado ficaram preocupados após a morte de Cláudio. “Na Quinta-Feira Santa eu não fui trabalhar. Preferi não abrir a banca pois eu vendo carne e ninguém compra nesse dia. Mas eu conversava com o Cláudio, ele era açougueiro como eu. Então a gente fica apreensivo, ele trabalhou doente por vários dias, não sabemos com quantas pessoas ele teve contato”, disse a ÉPOCA. AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIGRIPAIS Cláudio começou a sentir indisposição no dia 2 de abril, de acordo com o auxiliar administrativo Marcelo Franklin, de 33 anos, parente da vítima. Indisposto e gripado, Cláudio fez automedicação com antigripais. “Com os remédios, ele resistiu uns dias e conseguiu trabalhar até a manhã da Quinta-Feira Santa. Mas ele não aguentou mais e foi ao hospital”, afirmou Franklin. Cláudio ficou internado no Hospital Veredas e, em 13 de abril, teve de ser encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Mulher. Morreu dois dias depois. A família dele está em quarentena. A Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária (Semtabes), responsável pelo mercado, lamentou a morte de Cláudio e informou em nota que ele não havia reportado qualquer problema de saúde à administração do estabelecimento. E acrescentou que o box onde Cláudio trabalhava foi isolado e as autoridades sanitárias fizeram desinfecção em todo o mercado. Após a confirmação da morte, o Mercado da Produção seguiu aberto, mas com restrições. Passou a haver um controle de entrada e saída de pessoas. Com a medida, formaram-se filas de clientes do lado de fora na semana passada. MP APURA IRREGULARIDADE Uma investigação foi aberta para apurar a responsabilidade pela aglomeração de pessoas no mercado. O Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) requisitou que seja apurada "a suposta ocorrência de crime de infração de medida sanitária". De acordo com o órgão, não houve “qualquer organização por parte da administração do estabelecimento, mesmo após o recebimento de instruções para se evitar esse tipo de aglomeração e realizar o correto procedimento de higienização, gerando risco concreto e efetivo de contágio pela Covid-19”. A Semtabes informou que enviará ofício ao Ministério Público com esclarecimentos a respeito da movimentação no mercado durante a Semana Santa. Em nota, afirmou que o serviço de som interno orientou os frequentadores a manterem o distanciamento adequado e que os órgãos de segurança foram acionados, “mas devido ao fluxo atípico, não foi possível dispersar a aglomeração”. A secretaria disse ainda que na Sexta-Feira Santa o acesso de clientes já estava ordenado, com apoio da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Fonte: Época

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