Buscar

Comandante do 10º RC MEC entra na ‘mira’ da Justiça por morte de recruta em Bela Vista

Decisão do juiz Jorge Luiz de Oliveira da Silva aponta falhas na liderança do Coronel Nakamura, que pode ter negligenciado a segurança dos recrutas

Cb image default
Soldado Vinicius Ibanez Riquelme - (Foto: Reprodução) / Tenente Coronel Kenji Alexandre Makamura - Foto: Ademir Mendonça

O Coronel de Cavalaria Kenji Alexandre Nakamura, comandante do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado (RCMEC) do Exército Brasileiro, situado em Bela Vista, a 324 quilômetros de Campo Grande, está na "mira" da Justiça Militar em decorrência da morte do Soldado Vinicius Ibanez Riquelme, de 19 anos, ocorrida durante a Instrução Básica de Soldados do Efetivo Variável de 2024.

A decisão de colocar o Coronel Nakamura na ação foi proferida pelo Juiz Federal da Justiça Militar, Jorge Luiz de Oliveira da Silva, que conduz o processo. Apesar de o Ministério Público Militar (MPM) não ter especificado possíveis responsabilidades do comandante, o juiz afirmou que Nakamura "detinha a responsabilidade final pela execução das ordens de instrução e pela segurança dos recrutas durante o treinamento. A falta de supervisão e a falha em identificar e corrigir os abusos antes que se tornassem críticos são falhas significativas na liderança da instrução, o que pode ter contribuído para a sequência de eventos desastrosos que se seguiram. Embora não diretamente envolvido nas operações diárias do campo de treinamento, os autos indicam que faltou diligência do Coronel Nakamura, que deveria ter identificado possíveis problemas durante o evento antes que viessem a tomar a proporção que tomaram."

O magistrado ressaltou que "é evidente que o Comandante da OM não é onipresente e tampouco onisciente. Porém, como já mencionado, não se trata de um ou dois eventos isolados, mas sim de ocorrências difusas que transformaram o treinamento dos recrutas em um centro de arbitrariedades, onde vários militares entenderam que estavam livres para agir da forma mais truculenta e abusiva que lhes servisse. Na condição de Comandante da OM, o Cel Nakamura, militar experiente, tinha a obrigação de comparecer ao local de treinamentos de forma constante, reunir-se com os recrutas e mostrar sua presença. É sabido que a presença do Comandante é importante fator inibidor de determinados comportamentos impróprios. Porém, não há notícias dessa presença do Cel Nakamura no treinamento. Os pretensos abusadores, em tese, sentiam-se à vontade para perpetrar suas práticas indevidas."

O juiz também apontou que "a cultura organizacional sob o comando do Coronel Nakamura pode ter contribuído para um ambiente onde a negligência e o desrespeito aos recrutas eram permitidos ou ignorados, o que potencialmente resultou em condições perigosas para os recrutas."

Com base nesses indícios, o magistrado decidiu que há elementos suficientes para submeter o Coronel Kenji Alexandre Nakamura a um processo penal, destacando que, na condição de Comandante do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado, Nakamura era o "agente garantidor" da segurança dos recrutas.  Apesar da ação na Justiça, o Coronel Kenji Alexandre Nakamura continua no comando do 10º RC MEC, sem sofrer nenhum afastamento.

Além do Coronel Nakamura, também devem responder pelas acusações o Capitão Antônio Stecca Rennó, o 1º Tenente Artur Figueira Souto, e a 3º Sargento Jennifer Oliveira de Arruda, que é enfermeira. É importante ressaltar que todos os acusados são, por enquanto, presumidos inocentes, não havendo condenação até o momento. 

O magistrado aceitou a denúncia contra outros militares envolvidos, incluindo o 2º Tenente Thiago Mauri Marçal, o 3º Sargento Victor Augusto Albuquerque Barros, o 3º Sargento Gustavo Doré Gonçalves, o 3º Sargento Arthur Castellani Lopes, o Sargento Breno Gonçalves Salles, o Cabo Lucas Romero Silvestre, o Cabo Everton Marim Figueiredo, o Soldado Luiz Eduardo Coronel Siqueira, o Soldado Weverton da Silva Dias, o Soldado Cleison Rodrigues Marinho, e o Soldado Marcos Vinicius Irala dos Santos. Estes devem ser citados para apresentarem suas defesas no processo. 

"O Alvorada Informa, comprometido com a transparência, trabalha arduamente na apuração dos fatos para fornecer à sociedade, que clama por justiça, as informações sobre a morte do Soldado Vinicius Ibanez Riquelme, visto que o processo tramita em sigilo. Nossa missão é garantir que todas as informações relevantes sejam divulgadas de forma precisa e responsável, contribuindo para o esclarecimento dos acontecimentos e para a justiça que a sociedade exige."