Publicado em 23/05/2024 às 18:56,
Com as noites passadas em claro, sem poder trabalhar, com uma rotina de corridas ao hospital e judicializações e, sobretudo, de cuidados atentos e constantes com os dois filhos pequenos, Izabella Sanfolin Cáceres é uma das mães que sofrem em decorrência de um grave problema de saúde: a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). A doença, que é o tipo de alergia alimentar mais comum em bebês, foi debatida, na tarde desta na tarde desta quinta-feira (23), na Assembleia Legislativa, em reunião proposta pela deputada Gleice Jane (PT). A solução consensuada é a da implantação no Estado de programa que garanta alimento necessário às crianças com a doença. O assunto será levado ao Governo estadual.
No Brasil, conforme estima o Ministério da Saúde, há 70.329 crianças, de zero a dois anos, com APLV, o correspondente a 1,2% da população com essa faixa de idade. Considerando esse percentual, Mato Grosso do Sul teria, pelo menos, 220 crianças com a doença, segundo informou a médica alergista e imunologista, Adriana Cunha Barbosa, diretora científica da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia Regional MS (ASBAI/MS). A especialista, que palestrou durante o evento desta tarde, informou que Mato Grosso do Sul está entre os 12 estados brasileiros que ainda não têm programa de oferta de fórmulas alimentares a crianças com APLV. São oito as unidades da Federação, além do Distrito Federal, com programas estaduais e seis, com programas municipais nas capitais.
“Estamos encerrando aqui apenas o início dos nossos trabalhos”, afirmou a deputada Gleice Jane. A próxima etapa é a realização de reunião com o secretário de Estado de Saúde, Maurício Simões Corrêa, que será requerida pela parlamentar. “Vamos levar as demandas que discutimos hoje com o objetivo de buscarmos, conjuntamente, caminhos para o que o Estado possa garantir o alimento que essas crianças precisam”, disse a parlamentar ao fim do encontro. A proposta é a de que o Governo de Mato Grosso do Sul implemente programa, tal como já ocorre em São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão, Sergipe e Bahia e no Distrito Federal. Nessas localidades, há programas administrativos e protocolos que fornecem fórmulas a criança de zero a 24 meses.
A criação de um programa de fórmulas infantis representaria redução de demandas com saúde pública e de judicializações. Estudo apresentado por Adriana Barbosa mostra que haveria diminuição de 1.621 diárias de internação, de 352 eventos cutâneos, de 237 eventos gastrointestinais, 333 respiratórios e de 13 choques anafilático. “Para evitar um desses desfechos, seria necessário investimento de R$ 156,68 reais”, informou a médica. Além disso, a judicialização cairia em 90%. Por criança, a queda com os dispêndios em desfechos e judicializações seria de R$ 5309,17, impactando, no total, em economia anual aos cofres públicos de R$ 1,2 milhão.
“Por eles, faria tudo de novo”, afirma mãe da Cecília e do Bento
As cifras, embora publicamente importantes, são ofuscadas por preocupações maiores de quem vivencia o problema. É o caso da esteticista Izabella Sanfolin Cáceres, que, no seu dia a dia, tem questões muito mais significativas a se atentar. Ela é mãe da Cecília e do Bento, com um e três anos, respectivamente. E foi com a Cecília no colo que ela pegou o microfone para partilhar com os participantes da reunião um pouco de sua realidade.
“Eu não trabalho e meus filhos não estão na creche”, contou. Izabella também não dorme durante as noites para cuidar da bebê, que já passou por situações graves em sua vida de tão pouca idade. A mãe contou que certa vez a Cecília, na ocasião com quatro meses, teve forte refluxo, causando fechamento de sua glote. “Ela ficou sem respirar por seis minutos. Quando chegamos ao hospital, ela estava desacordada”, lembra-se.
Izabella está entre as várias pessoas que precisaram buscar a Justiça para conseguir o que a saúde pública estadual não oferece: o tratamento necessário a seus filhos. Além disso, há outros gastos. Apenas com o leite especial para a Cecília, Izabella desembolsa cerca de R$ 3,2 mil por mês.
Essa realidade, no entanto, não arranha, de modo algum, uma certeza de Izabella: a de que tudo isso vale muito à pena, por causa da Cecília e do Bento. “Por eles, faria tudo de novo”, falou, convicta.
O que é Alergia à Proteína do Leite de Vaca
A APLV, segundo explicou Adriana Barbosa, é uma doença resultante de uma resposta imunológica irregular, que ocorre com a ingestão ou apenas com o contato com determinados alimentos, como leite, ovo, soja e carne. “Em geral, inicia-se precocemente na vida com manifestações clínicas variadas a depender do mecanismo imunológico envolvido”, disse a diretora.
Clique aqui e veja a apresentação completa da médica Adriana Cunha Barbosa.
Reunião
Também participaram da reunião a vereadora por Campo Grande, Luiza Ribeiro (PT), e o superintendente do Ministério da Saúde em Mato Grosso do Sul, Ronaldo Costa, entre outras autoridades. O encontro foi realizado no plenarinho Deputado Nelito Câmara, na Casa de Leis, e contou com a presença de pessoas ligadas à saúde e outras áreas e de outros interessados no assunto.
O evento teve transmissão ao vivo pelos canais de Comunicação Institucional da ALEMS. Confira abaixo a reunião na íntegra: