O médico Sérgio Simon tem 68 anos, 38 deles dedicados ao tratamento de pacientes com câncer. Agora à frente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, entidade que reúne 1,4 mil especialistas brasileiros, Simon tem pela frente o desafio de ajudar a tornar mais acessíveis os recursos modernos contra a doença, que já chegou à marca de 600 mil novos casos por ano no País. Entre eles, os medicamentos imunoterápicos, hoje considerados uma das principais armas para reduzir ou curar tumores por agirem de forma muito mais precisa e menos danosa às células saudáveis em comparação à quimioterapia convencional. Outras urgências são oferecer mais opções para a aplicação de radioterapia, bastante usada para bloquear o crescimento dos tumores de forma não invasiva, e ampliar a rede de centros cirúrgicos. “Um dos problemas é que a marcação da consulta para as cirurgias já demora até três meses”, disse o médico nessa entrevista à ISTOÉ, na qual também fala do papel da fé e da importância do estilo saudável de vida no combate à enfermidade. Com tantas prioridades no tratamento do câncer no Brasil, quais serão as suas metas à frente da Sociedade? Vou trabalhar para melhorar o acesso à terapia oncológica no sistema público. Um dos passos é manter a interlocução com o Ministério da Saúde, sugerindo a introdução de novas tecnologias e medicamentos na lista dos recursos disponíveis no Sistema Único de Saúde. Há várias patologias contra as quais o SUS ainda está defasado em relação ao que é oferecido pela saúde complementar. A lista de remédios disponíveis está muito desatualizada? Sim. Embora, para surpresa nossa, o governo tenha aprovado no ano passado um tratamento bem atual para o câncer de mama HER2 positivo (constitui cerca de 20% dos casos). Não estávamos esperando por isso. As drogas agora disponíveis na rede pública fazem muita diferença para essas pacientes. A sobrevida delas fica muito maior quando são utilizadas. Isso merece destaque. Por outro lado, há muitas outras opções de remédios, para diversos tumores, que ainda não chegaram ao SUS. Queremos auxiliar o ministério a encontrar soluções junto com as companhias farmacêuticas para que fiquem disponíveis. O que é mais urgente para ser incorporado? Um exemplo são opções contra o câncer de pulmão com mutação em EGFR (tipo que atinge até 60% dos casos em não fumantes). Hoje há um tratamento por via oral, bem melhor para o paciente, mas que não está disponível no sistema público. Em vez de tomarem um comprimido por dia apenas, os pacientes são submetidos à quimioterapia. O resultado do tratamento é inferior e a toxicidade, maior. A espera por radioterapia pode chegar a seis meses. Nesse tempo, você pode perder a chance de curar um paciente E quanto à lista de espera para a realização de cirurgias ou de tratamentos como a radioterapia? Uma lei federal determina que o início do tratamento ocorra dois meses após o diagnóstico, mas dificilmente é o que acontece. As duas coisas são os grandes gargalos do sistema. É preciso que seja feita uma ampliação da rede e no parque de radioterapia. Em seu governo, a ex-presidente Dilma Rousseff se dispôs a comprar oitenta aparelhos, o que diminuiria a fila de espera para radioterapia. Isso foi em 2012 e aparentemente só um deles foi instalado. A espera por esse tipo de tratamento pode chegar. O problema está somente na disponibilização de máquinas? Não. Um avanço importante nos últimos anos foi o de fazer o tratamento radioterápico mais rapidamente. Mas essa técnica não pegou muito porque o reembolso da radioterapia é feito pelo número de sessões às quais o paciente é submetido. Para tratar uma metástase óssea (quando o tumor expande-se do local original e chega aos ossos), o tratamento clássico determina que as aplicações sejam realizadas em vinte dias. O pagamento por cada uma delas equivale a vinte frações. No entanto, hoje algumas metástases ósseas podem ser combatidas em uma única aplicação, de dose alta. Isso desocuparia o aparelho para outras dezenove sessões. Porém, o reembolso dessa única sessão equivale somente a uma fração. Então, ninguém quer fazer. IstoÉ
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Alvorada Informa,
03/02/2018 às 16:12 •